segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Interdito na minha cozinha: frango de aviário e outras carnes que tais


Este post não será simpático. Este post não será bonito, nem deixará os leitores com aquele sorriso nos lábios de quando consultam os seus blogs favoritos à procura de algum alento num dia difícil. Mas sendo este um blog que pretende a reflexão e partilha sobre a procura de um estilo de vida saudável, nem sempre encontrarão posts leves, bonitos e divertidos. Haverá posts que serão escritos para fazer pensar, abanar e até incomodar quem os lê no sentido de provocar a mudança.

Cada vez mais, como já tive oportunidade de aqui dizer, procuro consumir menos carne, não só por questões de saúde como por questões ambientais. Por muito que aceitemos que o sacrifício dos animais para a nossa alimentação faça parte da lei natural da vida e da nossa evolução, não consigo ficar indiferente (quem consegue?) aos métodos, no mínimo macabros, implicados em todo o ciclo de produção intensiva a que os animais estão sujeitos desde o nascimento até ao abate e que passa pelo seu confinamento, a alimentação e até controlo de doenças. E não se iludam: carne de animais que são criadas nestas condições não pode ser benéfica para a nossa saúde. Tal como nós, a condição física e saúde de um animal são influenciadas pela forma como vive e consequentemente a sua felicidade. E não, não consigo simplesmente olhar para o lado e pensar “prefiro nem saber…”.




Já há muitos anos que me recuso a comprar frango de aviário: todo o processo de criação até ao abate é simplesmente grotesco e na minha opinião, desumano. O resultado final, depois de uma vida de tortura, é uma carne sem qualquer sabor e com uma série de componentes prejudiciais à saúde. O confinamento intensivo, por exemplo, em pequenas gaiolas de galinhas poedeiras não lhes permite fazer os seus movimentos e comportamentos mais básicos e naturais da sua espécie, provocando stress, tédio e comportamentos desviantes. O mesmo acontece com as porcas reprodutoras confinadas em celas minúsculas. Poderão obter mais informações sobre este tema, por exemplo, aqui ou aqui.
Mas todo este processo não traz só infelicidade e danos aos animais mas também às pessoas que os consomem, em consequência da utilização corrente de antibióticos a título preventivo a todos os animais da exploração, doentes ou sãos (associado, por exemplo, ao rápido desenvolvimento de bactérias resistentes nos humanos), de hormonas e de rações à base de farinhas de cereais geneticamente modificados.
Por tudo isto e muito mais há muito que optei por comprar carne e seus derivados (ovos, leite, queijo, etc.) que sei qual a sua proveniência e modo de produção no qual é respeitado o seu ciclo de vida e a sua dignidade enquanto ser vivo. Sim, é mais cara e por isso o facto de reduzirmos o consumo de carne também fará diferença: não como carne todos os dias (carne vermelha como apenas uma vez por semana, por vezes menos), faço peixe e até refeições sem estas duas opções de origem animal, substituindo por leguminosas. É saudável, torna a culinária mais interessante e é uma atitude sustentável e responsável em temos ambientais.
Procuro sempre comprar carnes de produção extensiva e de raças autóctones (Barrosã, Lafões, Porco Alentejano) e/ou produção biológica (nomeadamente no que diz respeito ao frango) e em locais ou produtores de confiança (quem gosta de números e estatísticas pode consultar o Guia das Explorações de Agricultura Biológica: apresentam a evolução das explorações por região). E o que são para mim locais e produtores de confiança? São locais onde sabem informar-me com clareza de onde vêm esses animais ou pessoas que criam e que me explicam como o fazem com a mesma paixão e conhecimento (até mais) do que eu sobre estas questões. São locais e produtores que sabem o meu nome (e eu o deles), sabem o que eu quero e avisam-me em que dias é que chega o que eu pretendo (ficam com o meu contato e ligam-me) e até me abrem as portas das suas explorações. 

in: https://www.facebook.com/organicamadeira
Outra estratégia que tem funcionado comigo é pensar nos legumes como o principal da refeição e a carne como acompanhamento. Inicialmente parece estranho e até absurdo tal é o hábito de sobrevalorizarmos a carne. Quando li esta sugestão num livro sobre hábitos alimentares saudáveis pareceu-me mesmo estranho, mas a explicação era simples: até há bem pouco tempo a carne era um luxo; as famílias comiam carne em dias especiais do ano, matavam, por exemplo, um porco que daria para todo o ano. Os legumes eram, de facto, o principal da dieta algo que mudou radicalmente com o aumento do poder de compra e com a massificação do consumo da carne. No entanto, se voltarmos a pensar nos legumes como o principal de uma refeição vamos reduzir, de certeza, o consumo de carne. E comigo tem mesmo funcionado: consumo muito mais legumes do que outrora e em muitas refeições o resto de um bife triturado que ficou de outra refeição é a única fonte de carne num prato de massa ou de arroz em que o principal são os legumes. Existem muitas formas interessantes de confecioná-los que vão muito além da sua cozedura em água ou a vapor.

2 comentários:

  1. Eu também procuro carnes de pequenas produções conhecidas (tenho sorte de encontrar algumas carnes, como aves). Contudo, reconheço que é mais por questões de saúde e sabor do que por outras questões.

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    1. O motivo da saúde e do sabor são razões mais do que suficientes para procurarmos carnes de animais oriundos de produção extensiva. No entanto e ainda que em segundo plano, está a adotar um procedimento mais sustentável ao ambiente e dignificante para os animais, o que é muito bom. Por isso é que é um ciclo vicioso, mas neste caso, são só vantagens... ;)

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