O pão sempre ocupou na minha alimentação um lugar
de destaque. Se há cheiro que me consegue persuadir a comer é o cheiro do pão
quente, se há som que me desperta os sentidos é o estalar do pão a ser partido
ainda fresco e a visão do miolo a separar-se enquanto fumega, é algo que me
aquece a alma. Nas minhas gravidezes foi o alimento que comi compulsivamente e
tive mesmo de me controlar. Por ironia, ou talvez não, a minha filha mais velha
nunca consumiu o pão convencional porque cedo descobrimos que era alérgica ao
glúten. Ainda assim, nunca me passou pela cabeça eliminar o pão da minha
alimentação. É um alimento que me conforta e que faz parte da minha história:
uma das recordações mais queridas que tenho de infância é o regresso a casa no final das aulas em que a minha mãe parava na padaria e comprava o pão
para o dia seguinte, ainda quente. Nós, pelo caminho, comíamos sempre cada uma
um papo seco (como chamávamos na altura), quentinho porque era irresistível quando o
cheiro do pão acabado de fazer se difundia no carro. Também me lembro que quando íamos dar um
passeio e parávamos para comprar pão caseiro com batata-doce, cozido em forno a
lenha, que as senhoras vendiam à beira da estrada (e que entretanto por razões
sanitárias foram proibidas de o vender). Enfim, correndo o risco de parecer exagerada, abdicar de comer pão seria
cortar com algo que faz parte de mim e isso de certeza que não me faria bem.
No entanto, para além de não poder ignorar o
problema da minha filha mais velha, também não posso ignorar as recentes
preocupações quanto à qualidade do pão que se vende atualmente na maioria das
padarias: a qualidade das farinhas e dos cereais, nomeadamente o trigo e o
milho, a adição de açúcar e até mesmo as adulterações que se fazem nas receitas
para render mais. Convenhamos: muitas vezes estamos a pagar ar e pouco
mais.
Neste sentido, comecei a ser mais criteriosa na
escolha do pão: inicialmente comecei por comprar um pão para a minha
filha mais velha que, embora indicado para celíacos, nunca era um produto fresco,
não era biológico e até mesmo de sabor ficava muito aquém do que eu considero
ser um bom pão. Cheguei a encontrar pão biológico e sem glúten no mercado mas a
textura e o sabor também não eram apelativos. A minha filha parecia condenada a
não conhecer o prazer de comer um bom pão. Até que decidi começar a tentar
fazer eu própria um pão sem glúten. Pesquisei muito na net, experimentei muitas
receitas e devo dizer que algumas foram diretamente para o lixo, até que
consegui acertar com uma receita que resultou da reunião de várias receitas que
experimentei e que fui alterando até obter o resultado que pretendia, sem
perder, contudo, a qualidade do produto. E consegui: semanalmente faço um pão que é
totalmente sem glúten, biológico e saborosíssimo:
Este pão é à base de farinha de arroz e milho integrais. Os restantes
ingredientes variam consoante o que disponho no momento: sementes, frutos
secos, outros cereais como aveia sem glúten, etc.
É este o pão que as minhas filhas comem durante a semana ao pequeno-almoço e a mais
velha leva para a escola para o lanche (com o tempo espero que a mais nova
também o leve: como não tem indicação médica há sempre alguma resistência por
parte da escola para uma alimentação diferente das outras crianças, já consegui levar os iogurtes e os cereais biológicos porque aleguei os corantes e o açúcar incorporados,
no entanto, o pão é um assunto mais delicado). Mesmo nós não resistimos em comer
uma fatia ao pequeno-almoço e não precisamos de muito mais atendendo ao facto
de que é um pão que sacia muito bem.
Ainda assim e embora gostemos muito do pão, seria necessário fazer muito
mais do que uma vez por semana para satisfazer as necessidades de toda a família
e eu não tenho esse tempo, por isso, tenho comprado pão cozido em forno de lenha
no mercado biológico. O cheiro é indescritível quando lá chego, não consigo
mesmo resistir; no entanto, esta semana a senhora não estava e por isso não pude trazer nem fotografar para vos mostrar.
Às vezes, em alternativa, também trago um pão escuro que é mais intenso, como aconteceu nesta terça-feira: levedado com massa
azeda e não com fermento, o que torna um pão com um sabor muito especial e
intenso. Não consigo comê-lo diariamente até porque estimula mesmo os
intestinos: "É muito rico em fibra" diz com sotaque alemão a senhora que o faz, enquanto se ri orgulhosa. Mas, ainda assim, de vez em quando gosto de o trazer:
Este género de pães (caseiros) têm uma grande vantagem em relação aos outros: duram imenso tempo em bom estado. Tanto o pão escuro como o de trigo cozido a lenha duram uma semana perfeitamente bem, com a garantia de ingredientes de qualidade.
Há dias experimentei também um pão biológico comprado numa grande superfície, muito semelhante ao pão escuro que encontro no mercado: não era nada mau, o problema é que era muito caro. Por cinco fatias paguei quase o mesmo que pago por um pão inteiro no mercado. É por estas e por outras que a maioria das pessoas fica com a ideia de que consumir biológico fica muito mais caro...
Pão da padaria? Cada vez menos, que me perdoe o padeiro muito simpático que nos deixa pão à porta, a pedido, como nos velhos tempos.
Boa tarde,
ResponderEliminarEste é o 2º email que lhe envio, pois tenho estado a ler atentamente o seu blog. Eu tb tenho tido este problema "Pesquisei muito na net, experimentei muitas receitas e devo dizer que algumas foram diretamente para o lixo" e por isso lhe peço que por favor me envie a sua receita do pão que, pela descrição, me fez água na boca (anaamlf@gmail.com), pois não encontrei a receita aqui no blog.
E já agora, se me puder também enviar a moradada padaria onde compra o tal pão da senhora alemã.
Obrigada. Ana Fernandes
Olá Ana,
EliminarJá lhe respondi por e-mail. Enviei-lhe o link do post que tem a receita do pão de arroz, aveia e milho que é o que eu faço cá em casa mais vezes. Este é sem glúten e por isso adequa-se ao seu caso.
Atenção que o pão que eu falo neste post em particular, vendido por uma Sr.ª Alemã, é um pão de trigo, por isso tem glúten...
Olá bom dia!
ResponderEliminarAdorei o seu blogue e quero felicitá-la pelo mesmo.
Identifico-me, perfeitamente, com os cheiros e os sons de que fala acrca do pão... É algo que a mim também me enche a alma!
E não posso deixar de lhe dizer que, apesar de náo ser tão frequente, ainda se consegue comprar pãozinho do bom à beira da estrada. A minha mãe costuma comprar-me um ao sábado que muitas vezes ainda chega quentinho a casa e que é simplesmente divinal! 😉