Se no meu post anterior tentei
descrever o meu percurso até à descoberta da agricultura biológica, neste
procurarei descrever as implicações práticas que isso trouxe no meu dia-a-dia.
Optei por fazer três posts porque quem não tiver pachorra para ler o anterior
sobre esta minha jornada, poderão perceber lendo os seguintes quais as
implicações práticas que esta escolha poderá trazer à nossa rotina
diária.
Um dos aspetos que notámos de imediato
quando começamos a consumir produtos de agricultura biológica foi relembrar o
verdadeiro sabor dos produtos. Com a massificação da produção alimentar
uma das coisas que se perdeu foi o verdadeiro sabor dos alimentos e nós
fomo-nos habituando à perda desse sabor e aceitando como normal a falta de
sabor dos produtos que se compram oriundos da agricultura convencional (penso que as gerações mais recentes já nem
saberão ao certo qual o verdadeiro sabor e aspeto de uma cenoura, por exemplo,
ou da fruta em geral). De facto, quando consumimos produtos de agricultura
biológica somos surpreendidos de como estes sabem bem melhor e trazem-nos à
memória recordações de infância. A qualidade do sabor e textura da carne que
passei a consumir foi também uma descoberta muito agradável para nós o que
reforçou a nossa opção por este tipo de produtos.
No entanto, à medida que o meu leque de
compras foi sendo alargado, tive de tomar algumas medidas, ou alterar alguns
hábitos que tornassem a minha vida compatível com esta escolha e aqui é que “a
porca torce o rabo”, como se costuma dizer, já que é neste campo que as pessoas
torcem, não o rabo, mas o nariz (muito mais do que no plano económico). Mudar
de hábitos não é fácil e como dizem os Deolinda:
"-Agora não, que eu acho que não posso.../ - Amanhã vou trabalhar..."
e claro, "- Vão sem mim, que eu vou lá ter...".
Se inicialmente uma ida semanal ao
mercado biológico e uma ida mensal ao talho eram suficientes para suprir as
nossas necessidades, gradualmente com a adoção de cada vez mais produtos
certificados, essa rotina tornou-se insuficiente. Que não pensem que tornei-me
numa obsessiva pelas compras de produtos de agricultura biológica e que deixei
de frequentar os supermercados convencionais. Não, até porque isso seria numa
situação ideal, que bem sabemos (principalmente quem tem filhos pequenos) é
impossível atendendo aos mil e um imprevistos que ocorrem em apenas 24 horas.
De facto, a regra seria ir aos sítios antes descritos, mas muitas
vezes por inúmeras razões e imprevistos em
casos de urgência tinha que recorrer aos supermercados ou grandes superfícies
que já toda a gente conhece. Felizmente, como já referi no post anterior, a
oferta foi aumentando gradualmente e eu fui procurando adotar rotinas e hábitos
que diminuíssem esses imprevistos que me obrigariam a desviar-me da minha rota.
Estes foram as principais medidas que tive de adotar:
- uma ideia importante que tive de mudar foi o querer os mesmos produtos disponíveis o ano todo (nomeadamente os frescos): de facto, sendo a agricultura biológica um modo de produção de agricultura sustentável, é frequente nos mercados biológicos (embora já existam produções de agricultura biológica em estufa) encontrarmos apenas produtos da época. Se inicialmente ficava aborrecida por não encontrar tomate ou courgette no inverno (e achava até estranho, sim, porque o hábito é tão grande de vermos estes produtos o ano todo nas prateleiras das grandes superfícies que passamos a acreditar que isso é que é o normal) com o tempo aprendi e mentalizei-me que existem sempre alternativas que a terra dá para cada época do ano. Atualmente já tenho como hábito comprar maioritariamente produtos da época, mesmo encontrando produtos de agricultura biológica fora de época, porque para além de ter aprendido que isso é importante para a nossa adaptação aos diferentes desafios que as estações nos colocam (e aprendi isto lendo sobre a filosofia macrobiótica) e por isso mais saudável, acredito que produzir alimentos fora da época ainda que de modo biológico é desvirtuar um pouco o princípio da agricultura sustentável (se estiver enganada por favor corrijam-me); desta forma, a minha dieta muda consoante a época do ano (por exemplo, deixei de comer saladas no outono e inverno e a comer mais legumes cozidos - da época - nestas estações). Não só é mais interessante porque quebramos a monotonia de comermos as mesmas coisas o ano todo, como é mais saudável e adoro a sensação quando chega a época de determinado produto do qual já tenho saudades: compro e como com muito mais prazer;
- tive de abandonar a ideia que prático é fazer as compras todas no mesmo sítio e o que é certo é que atualmente ao longo da minha semana tenho alguns locais de compra de eleição para adquirir os diferentes produtos de que necessito, sejam alimentares, de limpeza ou cosmética. É claro que foi preciso inicialmente fazer um plano (atualmente já o mecanizei) e criar uma rotina de forma a que isso não fosse incompatível com os meus compromissos. Atualmente, adquiro produtos de mercearia em dois locais distintos, os frescos continuo a comprar no mercado biológico, as carnes compro num talho de eleição e o peixe na peixaria do mercado municipal ou numa peixaria especializada (e não nas peixarias dos grandes supermercados); mais uma vez, foi preciso muita organização e alteração dos meus hábitos e rotinas, mas por outro lado, tornei as minhas idas às compras bem mais interessantes (até para as crianças), ao invés de passar horas num supermercado cheio de gente, com filas intermináveis para pagar…;
- tive que ser mais organizada e calculista no que diz respeito às minhas despesas: e o ponto anterior também vem no seguimento deste. De facto e embora a oferta esteja a aumentar e os preços a baixarem, ainda assim no que diz respeito a alguns produtos (nomeadamente de mercearia e carne), a comparação de preços dentro dos postos de vendas deste tipo de produtos pode fazer a diferença. E se tenho o mesmo produto de qualidade a um preço mais acessível (mesmo que signifique uma diferença de 0,50 cêntimos ou 1 euro), porque não aproveitá-lo? De fato, nunca fui de estar sempre a comparar preços entre os estabelecimentos e marcas (fazia mal, claro!), mas depois de ter começado a consumir produtos de agricultura biológica comecei a apontar os preços das diferentes marcas e nos diferentes postos de venda e a fazer as minhas escolhas mais calculadas. O que já não faço é comparar produtos de agricultura biológica com produtos não certificados porque acho que simplesmente não se pode comparar a qualidade dos mesmos. Hoje tanho consciência que faço uma rigorosa gestão do meu orçamento familiar e não considero que essa tenha sido uma desvantagem. Pelo contrário, acho mesmo que fiquei a ganhar em todos os aspetos;
- passei a comprar apenas aquilo que necessito e evito comprar trivialidades: em sequência do que já foi dito anteriormente, de fato, passei a ponderar melhor as minhas compras e a comprar apenas o que necessito. Deixei de ter produtos nas prateleiras que acabam por expirar a validade por não serem consumidos e a dar muito mais valor àquilo que compro;
- finalmente, um aspeto importante principalmente quando iniciamos este tipo de compra é ter alguma atenção à certificação dos produtos. Se é agricultura biológica que queremos (com tudo o que isso implica), devemos estar atentos à apresentação do certificado por parte dos produtores. Não basta dizerem que são produtos biológicos, porque isso qualquer um pode dizer. Eu própria já exigi (delicadamente, claro) que me mostrassem a certificação. Assim como procurar sempre o logotipo da certificação nos rótulos dos produtos.
Estas
foram as alterações principais que ocorreram no meu quotidiano a partir do
momento que passei a consumir produtos de agricultura biológica. No próximo
post falarei das implicações que essa opção teve nas minhas relações sociais…
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