Desde miúda que os meus pais habituaram-nos, a mim e à minha irmã, a
tomarmos sempre o pequeno-almoço. Se durante a semana o pequeno-almoço era o
típico pão com manteiga e uma caneca de café (de cevada) com leite, aos
domingos habitualmente eram ovos mexidos com cebola, salsa e fiambre que
comíamos dentro do pão, acompanhado pela caneca de café com leite. Lembro-me
que este terá sido o primeiro prato que aprendi a fazer sozinha e imaginava que
estava num programa de culinária da Filipa Vacondeus, no qual explicava todos
os passos (que não eram muitos, claro) enquanto confecionava os ditos
ovos.
O que é certo é que com o crescimento também passei por uma fase em que desprezei
a importância do pequeno-almoço que os meus pais haviam incutido. Quando passei
a ter horários diferentes e porque não estava para ter esse trabalho
raramente tomava o pequeno almoço. Já na faculdade e a morar sozinha, muitas
vezes a primeira refeição do dia era o almoço, ficando mesmo a manhã toda nas
aulas em jejum. Quando saía à noite já acordava tão tarde que só
almoçava. Enfim, como já devem ter percebido pela leitura de outros posts, a
minha adolescência foi um período muito negro para a minha alimentação mas
como tudo na vida, foi uma fase que passou e felizmente aos poucos fui voltando
aos princípios e ensinamentos da minha infância. Inclusivamente aprofundei a
informação sobre alimentação saudável e melhorei alguns aspetos que por
desconhecimento os meus pais não aplicavam.
Quando assentei arraiais, nomeadamente depois de terminar a minha
licenciatura e de ter ido viver com o meu marido, passei novamente a valorizar
esta refeição e com o tempo estabeleceu-se um ritual na nossa família:
panquecas ao domingo. No entanto, com o problema da alergia ao glúten da minha
filha mais velha e com as crescentes preocupações em consumirmos ingredientes
cada vez mais saudáveis e de produção biológica confrontei-me com algumas
questões que me obrigaram a alguma pesquisa e tempo para encontrar uma receita
que satisfizesse todos estes requisitos e que não comprometesse o prazer de
comer umas boas panquecas. Inicialmente resolvi o problema do glúten com uma
farinha (não direi aqui o nome da marca para não ferir suscetibilidades)
existente no mercado, própria para pessoas celíacas à base de milho (muito parecida
com a farinha maizena). De facto durante muito tempo passou a ser a farinha
principal cá em casa para todo o tipo de pratos (panquecas, bolos, massa fresca
para os pratos italianos, pão, etc.). No entanto, não era de agricultura
biológica e para além disso queria passar a consumir os cereais na sua forma
integral o que não era o caso. Percebi, então, que não podia continuar a usar
essa farinha, até porque poderia estar, inclusivamente, a consumir milho
geneticamente modificado. Foi então que decidi experimentar fazer panquecas com
farinha de milho integral proveniente de agricultura biológica. Inicialmente
estava um pouco renitente porque tinha levado imenso tempo a encontrar no mercado uma farinha sem glúten e de fácil adaptação às receitas que tradicionalmente são
feitas com farinha de trigo (ainda assim levei algum tempo para aprender alguns
truques para que todas as receitas saíssem bem) e estava um pouco desanimada de
voltar agora à estaca zero, ter de aprender a trabalhar novamente com uma nova
farinha e adaptarmo-nos novamente a um novo sabor.
No entanto devo dizer que o
resultado foi francamente positivo porque quanto ao sabor não se perdeu nada,
pelo contrário, é bem melhor (eu adoro o sabor do milho e por isso não foi
difícil) e quanto à maneira de confeção e à textura não sofreram
grandes ou mesmo nenhumas alterações. Valeu, de facto, a pena: agora tenho a
garantia de que estou a consumir milho que não é geneticamente modificado e sem
químicos.
Outra preocupação era estar a dar às minhas filhas um pequeno-almoço com açúcar (algo que também tenho vindo a ter muito cuidado) e decidi
experimentar fazer a massa sem qualquer açúcar. E não é que descobri que não
faz falta nenhuma? O mel é mais do que suficiente para dar o toque doce de que
gostamos. Também costumo adicionar raspa de laranja (quando a casca
está em condições para esse efeito) e uma pitada de canela.
Como podem ver na imagem anterior, por norma acompanhamos as panquecas com
mel de abelhas que faço questão de ir comprar a um apicultor de confiança,
relativamente próximo à minha casa (eu moro numa zona rural). O mel é uma
maravilha e nunca cristaliza no frasco o que indica que não é adicionado açúcar
como acontece com o mel que compramos nos supermercados.
No verão costumo comprar mirtilos frescos biológicos no mercado biológico e
incorporo na massa das panquecas o que fica uma verdadeira explosão de sabores.
No outono e inverno acompanhamos com frutos secos (amêndoas, nozes,
etc.).
E são assim os nossos pequenos-almoços de domingo: sem glúten, sem químicos e
sem produtos geneticamente modificados, mas com todo o sabor e prazer em
família. As miúdas adoram, o marido adora...e eu também!
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