domingo, 19 de outubro de 2014

No bosque e na aldeia


A rotina trabalho-casa, casa-trabalho pode ser tramada. Por muito que gostemos do que fazemos, se não tivermos cuidado enredamo-nos num ciclo vicioso que mais cedo ou mais tarde nos limita os horizontes. É preciso ter força de vontade para nos fins-de-semana não cairmos na tentação de simplesmente nos estendermos no sofá e deixar o tempo passar. 
Quando apercebi-me que este fim-de-semana o tempo estaria inesperadamente bom para a época do ano, tratei logo de planear um passeio para explorarmos outras paragens e respirarmos novas realidades. Já tivemos a oportunidade de conhecer algumas aldeias serranas da Lousã, como foi o caso de Gondramaz, mas outras há ainda por descobrir e desta vez fomos para os lados do concelho de Góis conhecer a aldeia Aigra Nova.
Mais uma vez optámos pelo piquenique para o almoço e à semelhança do nosso passeio à Serra da Estrela, fiz umas empadas sem glúten, recheadas com cogumelos shiitake, couve roxa e lombarda. Apesar do almoço ter sido muito agradável, à sombra de castanheiros e de outras árvores autóctones, não planeara, ainda, escrever este post e por isso não me preocupei em tirar as fotografias. Podem, no entanto, encontrar a receita da massa das empadas aqui. Quanto ao recheio foi simplesmente saltear cebola, alho, os cogumelos fatiados e as couves cortadas à tiras fininhas. Caril, curcuma, ervas aromáticas e umas gotas de vinagre de cidra para dar um toque especial e não foi preciso mais para fazer umas empadas biológicas, saborosas, sem glúten e um almoço prático para a ocasião.
Quando, depois de comermos, começámos a explorar o espaço que escolhemos para almoçar não resisti em tirar fotografias e a ideia do post foi, de facto, surgindo à medida que encontrava maravilhas escondidas. Infelizmente já não é fácil encontrar floresta no nosso país: os pinheiros, os eucaliptos e a invasora acácia sufocam as espécies que há muito povoaram as nossas florestas como o castanheiro, o sobreiro, o carvalho, ou o azevinho. Quando vou dar um passeio e fazer um pique-nique tento, na medida do possível, embrenhar-me em pequenos bosques que me trazem na mente como este território foi um dia, antes do império das monoculturas do pinheiro e eucalipto. Se ficarmos atentos as duas paisagens, apesar de verdes, nada têm a ver uma com outra. Normalmente temos de sair da estrada principal para encontrarmos estes tesouros cada vez mais raros, mas quando os encontramos vale mesmo a pena: árvores com os seus troncos imponentes e retorcidos, almofadados com uma espessa, mas macia, camada de musgo e líquenes. Várias espécies de cogumelos que brotam discretamente do tapete de folhas de vários tons e feitios que cobrem o solo e riachos escondidos com grutas interessantes por descobrir:

Nestes bosques as árvores têm alma e história, alguns troncos disformes e aparentemente ocos albergam animais, plantas e outros segredos. Sentimo-nos realmente pequenos ao pé delas.
A dada altura apercebemo-nos que as ouriços das castanhas eram muitos e não resistimos em apanhá-las e recolhê-las numa bolsa improvisada feita com a minha saia. Interessante foi ver a cara de espanto das miúdas quando se aperceberam que aquelas bolas cheias de picos continham um dos seus frutos favoritos, guardados e bem protegidos da queda que fazem desde o alto da árvore (confesso que houve alturas que tememos pelas nossas cabeças tal era o número de ouriços que sonoramente caíam aos nossos pés).
Terminado o almoço e a exploração do bosque dirigimo-nos à aldeia serrana Aigra Nova, que atualmente conta com quatro habitantes permanentes. Tivemos sorte: não só visitámos uma típica aldeia serrana, salpicada de casas de xisto, com as suas ruelas pitorescas de pedra mas assistimos, também, a uma recriação da colheita e malha do milho como em tempos se fez nestas (e noutras) paragens:



As crianças (e nós) adorámos: é bom lembrar ( e no caso delas aprender) que não existe apenas um modo de vida, que existem outras alternativas. É importante lembrar e ensinar aos mais novos que a vida não é só, nem pode ser, o reboliço da cidade, as grandes superfícies (que pessoalmente já não suporto e raramente frequento) e as rotinas da semana que muitas vezes nos impedem de pensar em algo mais e ver outras formas de vida. Elas estão aí, existem e são reais: é só estarmos atentos e ter a coragem de agarrá-las...

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