A rotina trabalho-casa, casa-trabalho pode ser
tramada. Por muito que gostemos do que fazemos, se não tivermos cuidado
enredamo-nos num ciclo vicioso que mais cedo ou mais tarde nos limita os
horizontes. É preciso ter força de vontade para nos fins-de-semana não cairmos
na tentação de simplesmente nos estendermos no sofá e deixar o tempo
passar.
Quando apercebi-me que este fim-de-semana o tempo
estaria inesperadamente bom para a época do ano, tratei logo de planear um
passeio para explorarmos outras paragens e respirarmos novas realidades. Já tivemos
a oportunidade de conhecer algumas aldeias serranas da Lousã, como foi o caso
de Gondramaz, mas outras há ainda por descobrir e desta vez fomos para os lados
do concelho de Góis conhecer a aldeia Aigra Nova.
Mais uma vez optámos pelo piquenique para o
almoço e à semelhança do nosso passeio à Serra da Estrela, fiz umas empadas sem
glúten, recheadas com cogumelos shiitake, couve roxa e lombarda. Apesar do
almoço ter sido muito agradável, à sombra de castanheiros e de outras árvores
autóctones, não planeara, ainda, escrever este post e por isso não me preocupei
em tirar as fotografias. Podem, no entanto, encontrar a receita da massa
das empadas aqui. Quanto ao recheio foi simplesmente saltear cebola, alho, os
cogumelos fatiados e as couves cortadas à tiras fininhas. Caril, curcuma,
ervas aromáticas e umas gotas de vinagre de cidra para dar um toque especial e não foi
preciso mais para fazer umas empadas biológicas, saborosas, sem glúten e um almoço prático para a ocasião.
Quando, depois de comermos, começámos a explorar
o espaço que escolhemos para almoçar não resisti em tirar fotografias e a ideia
do post foi, de facto, surgindo à medida que encontrava maravilhas escondidas.
Infelizmente já não é fácil encontrar floresta no nosso país: os pinheiros, os
eucaliptos e a invasora acácia sufocam as espécies que há muito povoaram as
nossas florestas como o castanheiro, o sobreiro, o carvalho, ou o azevinho. Quando vou dar um passeio e fazer um pique-nique tento, na medida do
possível, embrenhar-me em pequenos bosques que me trazem na mente como este
território foi um dia, antes do império das monoculturas do pinheiro e
eucalipto. Se ficarmos atentos as duas paisagens, apesar de verdes, nada têm a
ver uma com outra. Normalmente temos de sair da estrada principal para
encontrarmos estes tesouros cada vez mais raros, mas quando os encontramos vale
mesmo a pena: árvores com os seus troncos imponentes e retorcidos, almofadados
com uma espessa, mas macia, camada de musgo e líquenes. Várias espécies de
cogumelos que brotam discretamente do tapete de folhas de vários tons e feitios
que cobrem o solo e riachos escondidos com grutas interessantes por descobrir:
Nestes bosques as árvores têm alma e história, alguns troncos disformes e aparentemente ocos albergam animais, plantas e outros segredos. Sentimo-nos realmente pequenos ao pé delas.
A dada altura apercebemo-nos que as ouriços das castanhas eram muitos e não
resistimos em apanhá-las e recolhê-las numa bolsa improvisada feita com a minha
saia. Interessante foi ver a cara de espanto das miúdas quando se aperceberam
que aquelas bolas cheias de picos continham um dos seus frutos favoritos,
guardados e bem protegidos da queda que fazem desde o alto da árvore (confesso
que houve alturas que tememos pelas nossas cabeças tal era o número de ouriços
que sonoramente caíam aos nossos pés).
Terminado o almoço e a exploração do bosque dirigimo-nos à aldeia serrana
Aigra Nova, que atualmente conta com quatro habitantes permanentes. Tivemos
sorte: não só visitámos uma típica aldeia serrana, salpicada de casas de xisto,
com as suas ruelas pitorescas de pedra mas assistimos, também, a uma recriação da
colheita e malha do milho como em tempos se fez nestas (e noutras) paragens:
As crianças (e nós) adorámos: é
bom lembrar ( e no caso delas aprender) que não existe apenas um modo de vida,
que existem outras alternativas. É importante lembrar e ensinar aos mais novos que
a vida não é só, nem pode ser, o reboliço da cidade, as grandes superfícies
(que pessoalmente já não suporto e raramente frequento) e as rotinas da semana que
muitas vezes nos impedem de pensar em algo mais e ver outras formas de vida.
Elas estão aí, existem e são reais: é só estarmos atentos e ter a coragem de
agarrá-las...
Belo passeio e bela reportagem!
ResponderEliminarGostei imenso!
Beijinhos
Obrigada ;)
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