quarta-feira, 1 de outubro de 2014

De volta ao caldeirão



Sim, eu sei: desapareci do mapa sem deixar rasto e peço desculpa por isso. Mas inesperadamente a minha vida deu uma volta que me obrigou a parar e dirigir as minhas energias para outra atividade: um novo desafio profissional numa área que gosto muito, a comercialização de produtos de agricultura biológica. Claro que o facto de ter abraçado este novo desafio obrigou-me, porém, a uma nova adaptação: novas rotinas, tempo novamente limitado, enfim, reequacionar toda a nossa vida diária de forma a que nada fique para trás apesar desta nova variável, principalmente a alimentação…
Ao longo destes dois meses e desde que recomecei a trabalhar uma das minhas preocupações foi não perder os hábitos que consegui adquirir no período em que estive sem uma atividade profissional, como o ioga, a jardinagem, atitudes ecológicas face aos desperdícios domésticos, etc. e fundamentalmente os hábitos alimentares (refeições variadas, interessantes e com produtos de agricultura biológica). Já sabia que o conseguia fazer estando a tempo inteiro em casa mas um novo desafio colocava-se, agora que iniciava uma nova atividade profissional: seria capaz de manter diariamente o que procurei defender no que fui escrevendo nestes últimos meses? Descobriria agora que uma vida profissional é de facto incompatível com uma vida familiar e pessoal mais saudável, equilibrada e ecológica? 
Bem, a primeira coisa a ir ao ar foi, como devem todos ter reparado, o blog: deixei de ter tempo para escrever e quando tinha tempo, não tinha a energia ou inspiração para o fazer. E apesar de saber que perderia leitores (com muita pena minha) decidi que esta tinha de ser uma atividade de prazer e não de obrigação.
Outra das atividades que também foi prejudicada foi o ioga: os horários eram incompatíveis com o meu trabalho o que me obrigou a desistir e em casa deixei, também, de praticar. No entanto, passada a turbulência do início, penso já ter encontrado a alternativa que poderá ser a solução para as minhas costas que já reclamam a falta de exercício: dentro em breve espero começar a fazer pilates. Fica a faltar, porém, a parte de meditação que também começo a sentir falta…
O jardim ficou um pouco abandonado nos primeiros tempos, o que o salvou foi a rega automática e o facto de este verão ter sido ameno e com chuva. No entanto, já consegui organizar-me e voltei a dispensar algum tempo para tratar dele. O equinócio do outono lembrou-me que é importante tratar das plantações desta estação, a natureza não espera nem se compadece com as nossas tarefas mundanas: transplantei algumas plantas que estavam a precisar, organizei as podas das sebes e do salgueiro, adubei as plantas com composto do nosso compostor, e travei outra batalha (sempre inglória) com as infestantes. Fez-me bem, faz-me sempre bem. A compostagem caseira não foi prejudicada e continua a ser feita como habitualmente porque não dá, de facto, trabalho nenhum: é só deitar o lixo doméstico no compostor e deixar a natureza fazer o resto… 
Mas e a alimentação? Este ponto não queria mesmo deixar para trás e em nome da falta de tempo e cansaço voltar às refeições pouco variadas, em que os bifes são uma presença constante, em detrimento dos legumes e leguminosas, como outrora aconteceu. É que para além de iniciar uma atividade profissional, um outro desafio surgia agora: a minha filha mais velha entrou no 1º ciclo e eu já tinha decidido que ambas passariam a levar todas as refeições de casa para a escola. Para não falar de um novo acompanhamento que esta fase exige por parte dos pais: trabalhos de casa, atividades extracurriculares, enfim, quem tem filhos em idade escolar sabe bem do que falo. Bem, devo confessar que fiquei algo preocupada quando parei para programar tudo isto: iria conseguir dar resposta a tudo? Depois de muito pensar cheguei à conclusão que o ideal seria mesmo levantar-me cedo para confecionar as refeições do dia (o que faço para o almoço fica para o jantar): comprei dois bons termos para evitar que na escola aqueçam a comida no micro-ondas e passei a levantar-me todos os dias às 6:15 da manhã. para a confeção das refeições. O planeamento destas faço-o de véspera e baseiam-se no esquema uma vez carne, uma vez peixe e uma vez vegetariana, sendo que a carne vermelha faço poucas vezes, privilegiando as carnes brancas. Consulto também a ementa escolar e sempre que acho pertinente procuro fazer um prato parecido. A sopa faço duas vezes por semana em quantidades maiores para dar para três dias, mais coisa menos coisa, e tê-la sempre disponível de manhã. No que diz respeito aos lanches coloco nas lancheiras frutos secos para o lanche de manhã acompanhados com chá dos 3 anos adocicado com sumo de maçã e o lanche da tarde é alternado com pão com manteiga de amêndoa, bolachas (sem açúcar) de arroz, milho e/ou castanha e bebida de arroz ou iogurte com cereais (o único laticínio que continuamos a consumir em casa). Quando a ementa da escola prevê sobremesas (mousse de chocolate, arroz doce ou até bolo) faço mousse de cacau puro com banana, puré de fruta com kuzu e na substituição dos bolos (lanches e de aniversário, por exemplo) envio barrinhas biológicas de tâmaras e frutos secos. É importante dizer que cada vez mais privilegio os produtos de agricultura biológica, aliás, esse a par com a alergia ao glúten da mais velha e da necessidade em fazermos uma alimentação realmente variada, é um dos grandes motivos porque optei que elas passassem a comer a comida de casa e não da escola.
Posso dizer-vos que já temos duas semanas desta rotina e pretendo continuar: não vou dizer que é fácil quando o despertador toca, mas depois de levantar-me sinto que vou com outra disposição e energia para a cozinha do que quando o fazia ao final do dia depois de um dia de trabalho (fora ou doméstico). À tarde, quando chego a casa, sabe mesmo bem já ter o jantar feito, ter tempo para ir com as miúdas até ao jardim nestes dias que ainda não são muito curtos ou poder acompanhar, com calma, a realização dos trabalhos de casa. Outra vantagem é que fico muito mais tranquila porque sei exatamente o que elas estão a comer na escola.
Embora tenha deixado de ir ao mercado biológico à quarta-feira, como várias vezes falei aqui, continuo a ir ao sábado e os produtos de mercearia continuo a trazê-los da mesma loja de produtos biológicos de sempre (até porque é nesse local que passei a trabalhar, o que facilita muito esta tarefa). 
Os primeiros tempos foram, de facto caóticos e sem certezas que iria resultar mas com planeamento, organização e sobretudo objetivos bem traçados de forma a que não sucumbamos às tentações do mais fácil ou mais prático, os resultados são francamente positivos a todos os níveis. Agora que a nova rotina começa a ficar sedimentada espero conseguir organizar-me para dar continuidade ao blog. Claro que não conseguirei fazer posts diários como outrora, mas espero voltar a escrever sempre que achar pertinente e voltar a partilhar convosco a minha busca por um caminho saudável, sustentável e alternativo. E a quem tudo isto interesse, espero que voltem a seguir-me…

2 comentários:

  1. Olá Maria joão.
    Acompanho o teu blog desde o ínicio, embora nunca tenha comentado. Contudo, quero que saibas que há sempre alguém deste lado que lê os teus artigos com gosto e prazer. Estou muito feliz por estares de volta. Também tenho uma menina que entrou para o 1º ciclo e uma das minhas, crescentes, preocupações é o almoço na escola. Já pensei em mandar uma marmita, mas ainda não o fiz. Sem dúvida que vieste incentivar-me nesse sentido. Obrigada. Eunice Gomes

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    1. Olá Eunice,
      Que bom foi ler o teu comentário. Ainda bem que o meu texto serviu de motivação para a mudança. Qualquer dúvida que tenhas ou experiência que queiras partilhar está à vontade para escrever-me por e-mail, terei todo o gosto em responder. São partilhas destas que também me motivam a continuar ;)
      Obrigada,
      Maria João Seixas

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