Como já
referi anteriormente cá em casa algumas das nossas refeições continuam a ser de
carne e peixe. Apesar de acreditar profundamente que o consumo de proteína
animal deva ser reduzido (atendendo aos padrões atuais de consumo) e
substituído por alternativas vegetarianas (e não obrigatoriamente por soja),
ainda não encontrei uma evidência de que posso, em segurança, eliminar de vez a
proteína animal da nossa alimentação, sem comprometer alguns aspetos da saúde,
nomeadamente no que diz respeito às crianças. Neste sentido, procuro
fazer uma a duas refeições por semana de peixe. Devo, no entanto, confessar que
não é o tipo de prato que mais me dê prazer em confecionar: normalmente, por supostamente ser mais prático, peço na peixaria (do mercado, claro) para o limpar,
no entanto, é rara a vez que o peixe seja realmente bem limpo e sou obrigada a
acabar de o limpar entre resmungos e críticas dirigidas a quem me entregou o
peixe naquele estado...
Por
outro lado a escolha do peixe é sempre uma preocupação: a poluição dos mares é
algo sempre presente na minha escolha quando vou às compras e cada vez mais
procuro fazer escolhas responsáveis tanto a nível de saúde como a nível
ambiental. São inegáveis os benefícios do
peixe para a nossa saúde (uma boa fonte de proteína e de gorduras insaturadas,
por exemplo), no entanto não podemos ignorar que a escolha do peixe isento de
poluição é bem mais difícil (se não impossível) do que comparado com a escolha
da carne. No entanto tenho alguns cuidados que tento seguir quando vou comprar
peixe:
in: http://oceana.org/en/our-work/stop-ocean-pollution/mercury/overview
Não
compro peixe de aquacultura a não ser proveniente de práticas de aquaculturas
responsáveis (devidamente certificadas e assinaladas com o símbolo de
agricultura biológica): as explorações de aquaculturas podem ser fontes de
poluição, nomeadamente no que diz respeito ao excesso de alimentação, resíduos
de peixe e peixes mortos. Este resíduo pode estimular o crescimento exacerbado
de algas, escurecendo as águas costeiras e provocando a alteração dos
ecossistemas existentes no fundo do mar. As altas densidades de peixes em
tanques-rede utilizados pelas instalações de aquacultura levam a surtos de
doenças e os peixes em cativeiro escapam muitas vezes para o meio ambiente,
onde podem espalhar essas mesmas doenças à população de peixes selvagens. Os peixes de viveiros são tratados com antibióticos para
resolver esses mesmos surtos, com todas as implicações que já conhecemos para a
saúde humana. Por outro lado e ironicamente, a aquacultura é cada vez mais a
causa da pesca excessiva das "espécies presas". Espécies como o
salmão (que praticamente já não se encontra sem ser oriundo segundo este modo
de produção) e o atum, são predadores de outras espécies e exigem grandes quantidades
de óleo e farinha de peixe na sua alimentação, tornando-os altamente dependentes
da pesca selvagens.
Outra preocupação é a contaminação das águas do oceano com mercúrio:
esta questão já não é nova e lembro-me de em criança ouvir as preocupações da
minha mãe a este respeito na escolha e compra do peixe. O mercúrio é libertado
para o meio ambiente a partir de fontes industriais e através de um processo
chamado bioacumulação os animais posicionados no topo da cadeia alimentar,
ou seja, predadores de outras espécies, possuem níveis mais elevados de mercúrio.
Muitos dos peixes que nós comemos, como o atum, a pescada e o peixe-espada poderão
estar contaminados com mercúrio tendo consequências nefastas para a saúde
humana, como o atraso do desenvolvimento neurológico em crianças. Neste
sentido, a Food and Drug Administration e a Agência de Proteção Ambiental têm
aconselhado as mulheres em idade fértil e crianças a não comerem certos tipos
de peixes, devido aos elevados níveis de mercúrio.
Sobre
este assunto tão atual e preocupante aconselho vivamente a consulta do site da Oceana,
a maior organização internacional que se dedica à conservação dos oceanos e
proteção dos ecossistemas marinhos: http://oceana.org/en/eu/home, ou ainda a
lista vermelha da Greenpeace em
http://www.greenpeace.org/portugal/Global/portugal/report/2008/6/lista-vermelha-peixes.pdf.
Sobre a
escolha das espécies de peixe a comprar as minhas recomendações são: antes de mais, tal como no consumo de carne, alternar as nossas refeições
de carne e peixe com refeições vegetarianas, reduzindo desta forma a necessidade
do seu consumo. Em segundo lugar tentar escolher espécies não predadoras e que
têm um ciclo de vida mais curto (como a sardinha ou o carapau). Sim, eu sei,
não é fácil. Temos a sensação que seja qual for a nossa escolha não conseguimos
escapar a aspetos nocivos à saúde e ao ambiente. No entanto é esta realidade em
que vivemos e não podemos continuar a enganarmo-nos dizendo repetidamente: “se
formos a pensar nisso, não comemos nada…”. Pelo contrário: é urgente pensar e
com o tempo estas práticas passam a fazer parte do nosso dia-a-dia e tudo fica
bem mais fácil.